quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Porquê!? É a questão que me assombra todos os dias

O cursor não pára de piscar e as palavras simplesmente não saem.
A vontade de desabafar é enorme e a necessidade de deitar tudo cá para fora, por forma a conseguir ultrapassar esta dor tão grande e fazer o luto a que tenho direito é demasiada, pelo que dias e dias sem coragem de me exprimir chegaram ao fim e vou tentar que a rotina a que já estava habituada de escrever neste meu espaço seja cumprida.
A minha ausência deve-se a um sem número de problemas que me ocorreram nestes últimos meses.
Penso que com o meu testemunho possa ajudar quem se encontre numa situação idêntica, pelo menos a perceber que o que me aconteceu pode acontecer a qualquer uma e ainda numa fase muito recente das minhas perdas as minhas palavras poderão não ser de alento mas pelo menos de compreensão.
Há quatro meses atrás descobri que estava grávida e a minha vida mudou por completo. A alegria reinava cá em casa e ao mesmo tempo o medo assombrava os meus pensamentos só de pensar que ia ser mãe. Caramba, mãe. Que palavra tão forte e que sentido de responsabilidade esta palavra tão simples e pequena significava. Mas a felicidade era demasiada pelo que as dúvidas ficavam para depois. Mãe! Eu, vou ser mãe!!
Passados dois meses de uma gravidez sã e feliz descobrimos que a minha felicidade iria ser a dobrar, bem como os choros, as fraldas, as mijadelas, etc, etc, etc. A 17 de Outubro descobrimos que iríamos ser pais de gémeos. Sim gémeos. Como é possível perguntam vocês, assim como eu perguntei inúmeras vezes. Em nenhuma das famílias havia gémeos, como é que isso me poderia ter acontecido?!
A explicação fica para outro post e assim tal como eu tirei um doutoramento em gémeos nestes últimos meses, vocês também vão poder perceber que todas as mulheres podem ter gémeos. Mas não se assustem, o que me aconteceu só acontece a 1% das mulheres no mundo pelo que dificilmente vos irá acontecer.
A minha obstetra pediu-me que no dia seguinte fosse ter com ela ao hospital para me examinar melhor. Apartir desse dia a minha vida tem sido um inferno. Descobrimos que a minha gravidez era mono mono (gravidez em que ambos os bebés estão na mesma placenta e no mesmo saco, partilhando o mesmo espaço, o mesmo liquido amniótico e o mesmo alimento).
Fui encaminhada de urgência para a maternidade para ser seguida por especialistas pois o meu caso era raríssimo e de alto risco. Quando cheguei fui vista por 9 médicos!! Diziam eles que um caso assim tinha que ser visto por todos, porque dificilmente na vida deles iriam voltar a ver um caso destes.
Porquê eu, tem sido a minha questão no decorrer dos últimos tempos. Porquê? Porquê? Se só acontece a 1% das mulheres no mundo, porquê eu!
Ao fim de dois meses de sofrimento, sem respostas às minhas inúmeras perguntas por parte dos especialistas, porque nem eles sabiam bem o que me responder e como tratar o meu caso, uma vez que as probabilidades desta gravidez terminar eram altíssimas visto os bebés partilharem o mesmo espaço e haver muitos riscos dos cordões se entrelaçarem e os bebés morrerem com falta de alimento, ou terem deficiências físicas e mentais, os meus bebés morreram às 15 semanas e alguns dias.
Uma vez que a gravidez já era avançada (4 meses) tive que fazer parto normal e ter os meus bebés, os meus filhos ou filhas!
Faz hoje duas semanas que soube que "a sua gravidez está interrompida". Faz hoje duas semanas que chorei e gritei como se o meu mundo tivesse acabado. Faz hoje duas semanas em que perdi toda a fé. Faz hoje duas semanas que o meu mundo caiu aos meus pés e eu perdi os meus filhos/as. Os meus queridos filhos/as.

5 comentários:

rosa_chiclet disse...

Bem querida a ler o teu post não consegui conter as lágrimas..

Um beijinho muito grande cheio de força

joana disse...

Um beijinho enormeeeeee com carinho...

Adelina disse...

Inês nao pude deixar de me emocionar com as tuas palavras. Estranhei a tua ausência, nunca quereria que tivesses passado por isto mas mt força:) o sonho está já ali ao teu alcance***

Rabodesaia disse...

Um murro no estômago foi o que senti ao ler as tuas palavras tão sentidas. Não há palavras para descrever o que tu passaste, a dor que tu tens, nem explicações possíveis. Nunca vais encontrar a explicação para o " porquê" nem que tentes buscar uma explicação lógica, abstrata, metafísica. Desejo-te a maior força do mundo, quero deixar-te tambem uma frase de esperança e dizer-te que uma amiga minha também passou por isso e agora tem dois filhos, a minha mãe perdeu um filho aos 9 meses e a seguir vim eu, e o meu irmão. Há esperança. E se o universo é justo, há muita coisa de bom que vem aí para ti e a dobrar. Um beijinho, muito grande!

Maria disse...

Obrigada pelas vossas palavras*